Já digo que escrevo de má vontade esse texto pro novo filme do Nick Cassavetes por dois motivos: 1) achei-o extremamente ofensivo; 2) ver Leslie Mann subestimando sua genialidade é um dos momentos mais tristes para a comédia feminina americana. Mas já que escrever sobre um filme nem sempre é uma tarefa fácil, vamos aos fatos: eu particularmente nunca vi um diretor promissor em Cassavetes, mas, mesmo carregando o sobrenome do pai de herança, nunca imaginei que vê-lo-ia tentando emular uma comédia escrachada com tanto mau gosto. Mulheres ao Ataque é Hollywood mais uma vez promovendo o sexismo através da falsa-pretensão feminista, num filme que se diz comédia e nem é engraçado.
Abraçando constrangedoramente os estereótipos femininos, seja pela
intelectualidade (ou a falta dela), e a escravização da dona de casa que vive
em função do marido, o filme de Cassavetes escolhe as piores formas de relação
entre três mulheres que encontram na rivalidade uma forma de se vingar do homem
que as traiu e enganou, em inflexão a sobreposição delas quanto mulheres àquele que é seu denominador comum (!). Por dentre noções de comicidade quase
inexistentes, numa busca dum humor banal que soe ao mesmo tempo bonitinho e bem
intencionado (em suas má intenções), e querendo ser uma nova versão de Missão
Madrinha de Casamento, Cassavetes e elenco parecem esquecer que existe na
estrutura do filme no qual se baseia uma fórmula de comicidade bastante
irreverente e própria, onde a ação feminista está nas personagens e não na
consequência de situações criadas por um embate entre sexos. Essa categorização
existente em Mulheres ao Ataque, e a exposição desconfortável das mesmas (vide
os planos com a presença da Nicki Minaj), assim como as motivações das protagonistas
se resumindo numa
vingança infantiloide ao homem-não-tão-sonho-de-consumo-assim,
reflete bem a falta de substância no argumento feminista que cerca tanto o
filme quanto a indústria em
geral. A ideia aqui não se difere muito do que acontece na
música, ou na televisão. Tal como o novo disco da Lily Allen (ou
toda a repercussão dele), por exemplo, o filme de Cassavetes se projeta
como um pastiche de si mesmo, sendo “apenas uma comédia”, ao mesmo tempo se
portando como defensor feminista, mas que nas entrelinhas de sua estrutura
‘niilista’ se mostra tão incoeso quanto inocente, validando toda e qualquer
crítica que venha a ser feita a seu respeito.
Seja por filmes como Mulheres ao Ataque, ou discos como o Sheezus,
de Allen, essa falsa idealização de como a indústria pode se portar diante de
um determinado assunto sempre deve levar em consideração a interpretação do
público, seja ele qual for. Usar da comicidade na construção de um diálogo
sujo, subvertendo um assunto específico para se auto-validar de forma
involuntária, é extremamente ofensivo ao gosto popular; em qualquer área de
entretenimento que seja.
Estados Unidos, 2014, 109 min.
De Nick Cassavetes
Com Leslie Mann, Cameron Diaz, Kate Upton, Nicki Minaj, Nicolaj Coster-Waldau