Vendido desde o início como
sucessor (de qualidade) de Harry Potter, numa desnecessária e incompreensível
tentativa de autopromoção, Jogos Vorazes, em seu primeiro ato, acabou por surpreender
público e crítica, tornando a saga de Suzanne Collins uma febre mundial. Comandado
por Gary Ross, a estréia de Jogos Vorazes nas telonas teve o aval imediato dos
fãs e até mesmo o reconhecimento notório dos menos empolgados com sagas
adolescentes. Deixando as beiradas prontas para uma seqüência, Ross tratou de
utilizar das intenções da saga de forma bastante peculiar, expressando sua
visão através do virtuosismo estético na construção dos planos e,
principalmente, na exploração da câmera trêmula, observando as ações da heroína
Katniss Everdeen - já iconizada pela personificação de Jennifer Lawrence.
O frisson gerado por elenco e
filme foi tamanho, que a continuação da saga acabou sendo brindada com uns
milhões de dólares a mais em seu orçamento, além de ter sua direção assumida por ninguém
menos que Francis Lawrence (do ótimo Eu Sou A Lenda), visando claramente manter
a assinatura de competência do estúdio. Conhecido por conduzir seus filmes como
cartões postais, rigorosamente artísticos e de bom gosto, sem muito aprecio por
diálogos verborrágicos, Lawrence estreou Em Chamas em grande estilo, já
colecionando recorde mundial em bilheteria. Tentando traduzir os ideais políticos
sem se abater muito pelo discurso (ou pela falta de liberdade), o diretor
procurou manter-se fiel ao seu estilo e a adaptação (da superfície) do livro, o
que por muito já faz de Em Chamas um filme além da média, porém que limita demasiadamente o potencial narrativo da trama e do realizador, deixando a
sensação de algo além do apogeu oferecido. Ainda que as camadas de tensão sejam
construídas de forma gradual, a se preencher com a atmosfera anêmica -e
silenciosa- do cinema de Lawrence, que definem muito bem as sensações da
protagonista, o compasso da ação subvertida e pontuada, adjunta ao desfecho de
filme B, dão à impressão de que as intenções da trama sobressaem as de Katniss.
Toda a vulnerabilidade da personagem quanto ao inferno astral que vivencia, e a
transição amorosa do coming of age, acabam servindo apenas de subtramas pras elipses
do que ainda está por vir.
Nem tanto pelo fato do que fica vago ou do que é
explorado bruscamente pela edição e montagem, já que são compreensíveis as
imperfeições de uma saga como Em Chamas, o que decepciona na realização de
Francis Lawrence é a ideia de cinema de distanciamento; que se por um lado
ajuda os coadjuvantes a sustentar seus personagens sem perder o charme e
enfatiza o desenho estético do filme (que realmente é impecável), por outro
expõe os conflitos de maneira bastante dimensional (longe de direcionar a
intenção de um filme unidimensional como Em Chamas) e ainda coloca o diretor
numa posição suscetivelmente impessoal em relação ao filme.
Jogos Vorazes: Em Chamas (★★★1/2)
Estados Unidos, 2013, 146 min
De Francis Lawrence
Com Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Woody Harrelson, Donald Sutherland, Stanley Tucci, Sam Claflin
Jogos Vorazes: Em Chamas (★★★1/2)
Estados Unidos, 2013, 146 min
De Francis Lawrence
Com Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Woody Harrelson, Donald Sutherland, Stanley Tucci, Sam Claflin