Sendo Ridley Scott o responsável por uma das odes feministas mais importantes do cinema, e levando em conta que sua carreira não esteja em seu melhor momento, é bem propício um filme como O Conselheiro do Crime surgir em sua filmografia como uma tentativa de resgatar o prestígio perdido (?) pelo diretor explorando uma temática que o próprio ajudou a formalizar.
Ao viés do que o texto de Cormac McCarthy tem a ser expresso
pela (des) construção sistemática de uma violência subvertida, parecida com
àquela de Onde Os Fracos Não Tem Vez, obra prima de Joel & Ethan Coen em
parceria com o próprio, a trama de um advogado (Michael Fassbender) que se
envolve com o tráfico de drogas e se encontra num dilema moral e intrínseco a
respeito de suas escolhas e das consequências que terá de enfrentar tem
divergência numa subtrama onde Cameron Diaz, em todo seu potencial femme
fatale, reitera à ambição feminina e trás à tona, numa personificação
contraditória, uma ideia semelhante (e conturbada) à de Thelma & Louise,
onde o texto de McCarthy sobre as mulheres é mitificado a cada ação da vilã. E
não é a toa que as participações de Brad Pitt, Javier Bardem e Penélope Cruz
sejam meramente exploratórias para a catalisação da trama paradoxal de Fassbender
e Diaz nesse contexto. Ainda que isso tudo soe interessante quanto superfície, a mão excessiva e descontrolada
de Scott em tentar a qualquer custo, por intermédio da pretensão estética intencional
que seus outros filmes denotaram com questionável competência na história do
cinema, do noir de Blade Runner e o contraste de universos que em O
Conselheiro do Crime é explorada numa hipócrita contraposição de ambientes
luxuosos com imagens de favelas e desertos mexicanos, está sempre a um passo em
frente à legitimação do cinema do diretor.
Ao passo que somente ao final banalizado do filme encontramos um resquício de competência e controle da imagem, o caminho escolhido por Scott para se chegar até ele é ostentado por uma seriedade que não sustenta os códigos narrativos de McCarthy ou a mise en scène dos diálogos cravados pelo elenco.
Ao passo que somente ao final banalizado do filme encontramos um resquício de competência e controle da imagem, o caminho escolhido por Scott para se chegar até ele é ostentado por uma seriedade que não sustenta os códigos narrativos de McCarthy ou a mise en scène dos diálogos cravados pelo elenco.
Servindo apenas de muletas para uma relação praticamente
tragicômica entre o contexto cinematográfico e realista/ficcional da trama
arquitetada por McCarthy e Scott, o elenco de O Conselheiro do Crime parece
ter saído de um soft porn kitsch, agindo feito contradições ambulantes, num
universo (sexual) que se quer ser circunspeto, porém que é conduzido a um final onde Michael
Fassbender, em seu pior momento, caminha desolado
e arrependido entre uma multidão de mexicanos que protestam contra a violência
sofrida pelos jovens latinos (no tráfico de drogas) (!!!). Coisas de Hollywood...
Estados Unidos/Inglaterra, 2013, 117 min
De Ridley Scott
Com Michael Fassbender, Cameron Diaz, Brad Pitt, Javier
Bardem, Penélope Cruz