Não sabia da existência de Guardiões
da Galáxia até pouco antes de receber o convite para a cabine de imprensa do
mesmo. Por não ser familiarizado com HQs em geral, e nem ter lido nada a
respeito da produção, logo pensei que se tratava de outra imersão da Marvel para
as telas nos moldes d’Os Vingadores. Felizmente, o que se encontra em Guardiões
é justamente o oposto. Filme que assume a veia da auto paródia, completamente
desprovido de seriedade hermética, diferentemente dos recentes Planeta dos
Macacos: O Confronto e Capitão América: O Soldado Invernal, Guardiões subverte
a estrutura latente das próprias produções da Marvel numa divertida e
despretensiosa viagem à origem do entretenimento da marca.
Diretor pouco conhecido, e
escolha discutível, até então, para assumir as rédeas da superprodução, James Gunn surpreende
por tirar toda a sobrecarga de expectativas que geram os filmes da Marvel, se
voltando pura e completamente ao universo que acomete os Guardiões e a
problemática dos mesmos. Num contraponto à ideia de Gunn em buscar extrair
apenas o entretenimento consciente da trama surrealista de cinco personagens
indistintos em seus sentimentos de justiça, existe aqui uma vertente infanto-juvenil que remete muito àquilo que o cinema do Spielberg propunha nos anos 80 (não
sendo à toa o filme ser moldado como um pastiche daquela época). Gunn
potencializa a esfera dinâmica do filme ao se utilizar duma misé en scène onde
a base para o entretenimento está no diálogo entre os personagens (vestidos
graciosamente pelo elenco) e o espectador, tal qual na cinematografia visual,
que acaba sendo um recurso metalinguístico qual permite a imersão do filme numa
compreensão atemporal do mesmo.
Nostálgico em sua reverência à
cultura pop dos anos 70, 80 e 90, Guardiões da Galáxia é quase uma versão
fantástica e menos sombria daquele Clube dos Cinco de John Hughes, sendo a
essência de este como um mero objeto de divertimento justificativa de que
Hollywood ainda pode realizar uma grande produção cinematográfica, sem que esta
se vista sob camadas e camadas de pretensão técnica e narrativas mirabolantes.
Meio a um ano repleto de super-heróis letárgicos, é sempre bom ver que alguém
ainda preza pelo fascínio que o gênero em outrora proporcionara.
Estados Unidos, 2014, 121 min.
De James Gunn
Com Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Vin Diesel, Bradley Cooper, Glenn Close