quinta-feira, 31 de julho de 2014

[Crítica] Guardiões da Galáxia



Não sabia da existência de Guardiões da Galáxia até pouco antes de receber o convite para a cabine de imprensa do mesmo. Por não ser familiarizado com HQs em geral, e nem ter lido nada a respeito da produção, logo pensei que se tratava de outra imersão da Marvel para as telas nos moldes d’Os Vingadores. Felizmente, o que se encontra em Guardiões é justamente o oposto. Filme que assume a veia da auto paródia, completamente desprovido de seriedade hermética, diferentemente dos recentes Planeta dos Macacos: O Confronto e Capitão América: O Soldado Invernal, Guardiões subverte a estrutura latente das próprias produções da Marvel numa divertida e despretensiosa viagem à origem do entretenimento da marca.

 
Diretor pouco conhecido, e escolha discutível, até então, para assumir as rédeas da superprodução, James Gunn surpreende por tirar toda a sobrecarga de expectativas que geram os filmes da Marvel, se voltando pura e completamente ao universo que acomete os Guardiões e a problemática dos mesmos. Num contraponto à ideia de Gunn em buscar extrair apenas o entretenimento consciente da trama surrealista de cinco personagens indistintos em seus sentimentos de justiça, existe aqui uma vertente infanto-juvenil que remete muito àquilo que o cinema do Spielberg propunha nos anos 80 (não sendo à toa o filme ser moldado como um pastiche daquela época). Gunn potencializa a esfera dinâmica do filme ao se utilizar duma misé en scène onde a base para o entretenimento está no diálogo entre os personagens (vestidos graciosamente pelo elenco) e o espectador, tal qual na cinematografia visual, que acaba sendo um recurso metalinguístico qual permite a imersão do filme numa compreensão atemporal do mesmo. 
 



Nostálgico em sua reverência à cultura pop dos anos 70, 80 e 90, Guardiões da Galáxia é quase uma versão fantástica e menos sombria daquele Clube dos Cinco de John Hughes, sendo a essência de este como um mero objeto de divertimento justificativa de que Hollywood ainda pode realizar uma grande produção cinematográfica, sem que esta se vista sob camadas e camadas de pretensão técnica e narrativas mirabolantes. Meio a um ano repleto de super-heróis letárgicos, é sempre bom ver que alguém ainda preza pelo fascínio que o gênero em outrora proporcionara.

Guardiões da Galáxia (★1/2)
Estados Unidos, 2014, 121 min.
De James Gunn
Com Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Vin Diesel, Bradley Cooper, Glenn Close