Estava tentando me lembrar do último filme protagonizado
por Johnny Depp que eu tenha realmente gostado. Tem quase 10 anos (visto que
fora em Em Busca da Terra do Nunca) que o ator não apresenta algo representativo
do talento que aparentemente tem. Depois de uma sequência de filmes com Tim
Burton, o ator até
se mostrou uma persona cômica divertida no último do Gore Verbinski (mesmo eu
achando O Cavaleiro Solitário um tédio). E não bastasse a escolha de projetos duvidosos
-e os fracassos de bilheteria- eis que Depp resolve aceitar ser protagonista de
um sci-fi dirigido pelo diretor de fotografia dos filmes do Christopher Nolan.
Na tentativa de sair da sombra de personagens-oscilação do Jack Sparrow, Transcendence
assume em sua premissa, para além de ser a possível projeção de Wally Pfister em Hollywood, a responsabilidade de se levar Depp a sério.
Dramalhão daqueles bem vergonhosos, que
respiram o brega numa forma até inevitavelmente divertida, o filme em questão é um
caça-níquel que não deu muito certo. Emulando toda aquela construção de suspense
que fez dos filmes do Nolan divisores d’água na década passada, e trazendo por
através de uma trama que se quer ser sóbria, sem os princípios básicos
narrativos, Transcendence pode se vangloriar de possuir uma das fotografias
mais belas do ano, e nada além disso. Elenco emprestado dos filmes do Batman, e
uma trama que mistura qualquer filme do Nolan com a tentativa de superação do
mesmo, Transcendence até tem em seu enredo uma interação bacana entre o homem e a
tecnologia, mas tamanhos são os equívocos narrativos e a forma como tudo acaba
num drama barato e sem propósito, que a essência do filme se resume num
mero fetiche visual. A fotografia distópica, unida a enquadramentos que
exprimem o virtuosismo fotográfico do diretor, dão o contorno denso que a trama
pede, mas o que falta aqui é uma visão propriamente cinematográfica desses
ingredientes. Além disso, a falta de um conflito primário, que desenvolva a
trama ao seu redor, deixa todo o pilar narrativo desestruturado; saturado de soluções
vazias, e uso abusivo de diálogos verborrágicos. Ademais, parece que elenco e
filme constrõem-se diante da dramaturgia paralelamente. Usando o overacting
quase como uma válvula de escape para
que o filme não acabe tão apático quanto a performance de Johnny Depp,
Transcendence assume-se apenas como uma cópia (in)fiel e nenhum pouco
deslumbrante da cinematografia do Christopher Nolan. E se existia alguma
empatia com o projeto, pelo envolvimento do diretor na produção do mesmo, ao
fim da sessão, fica a reflexão de que o próprio Nolan é um maestro de qualidade
duvidosa.
Transcendence - A Revolução (★1/2)
Estados Unidos, 2014, 110 min.
De Wally Pfister
Com Johnny Depp, Morgan Freeman, Rebecca Hall, Paul Bettany, Cillian Murphy