Segundo entrevistas e notas da produção, a razão à
qual o projeto veio à tona se justifica numa brincadeira de Whedon que, durante suas férias, após a
produção de Os Vingadores, organizou uma equipe em sua casa, na Califórnia,
decidido a lançar um filme em co-produção com sua esposa em selo independente,
numa estrutura visual completamente diferente das quais as obras de Shakespeare costumam ser filmadas. Mantendo-se na
forma clássica apenas o texto e a filmagem preta e branca –que compreende bem
mais a atmosfera social (e romântica) daqueles personagens-, Whedon modernizou
a ambientação e buscou transformar o cinismo amoroso e comportamental da trama
num estudo abrangente de personagem e daquilo que o próprio cinema pode usar
e/ou exercer como artifício manipulador. Logo na primeira cena, um casal, ainda
desconhecido do espectador, desvincula-se rispidamente um do outro após uma
noite amorosa, que se compreende, depois, como idéia subvertida na seqüência de
apresentação de ambos à trama. Alexis
Denisof é Benedick e a (ótima) Amy
Acker é Beatrice: dois personagens
orgulhosos, e química incontestável, que surgem de primeira instância como
coadjuvantes de si mesmos, mas, ao desenrolar da trama, trazem consigo um
sentimento de (re) encontro do amor perdido, em contradição da busca pelo novo.
A imagem construtiva do casal em pé de guerra é na verdade uma brincadeira,
cuja intenção é desmistificar a busca pelo amor -e por conseqüência sua forma
clássica-, concebendo uma fórmula (incomum) de interpretação textual, na qual
se entende toda a genialidade de Whedon no manuseio harmonioso de ideias e
estilo.
Drinks na piscina do desespero |
Desde o código humorístico
transposto ao título, para se compreender toda a perspicácia impressionista de
Whedon é preciso levar em conta que o estilo aqui é um personagem importante à
trama. Do uso natural da luz em contraste degrade com as cores como elementos
dramáticos, e até mesmo nos inúmeros devaneios performáticos do elenco, que se
utilizam da banalização sexual como objeto de alienação amorosa e social, não
fosse a subversão do humor num drama denso, capturado dos sinais textuais e da
interpretação exagerada da trama, os artifícios fílmicos de Whedon facilmente
enganariam, e a reunião de um grupo de amigos fazendo piada de si e dum estilo
de vida elitizado, tão plastificado quanto uma novela mexicana, tornar-se-ia
quase antagônica à interpretação do filme e do texto de Shakespeare como artigos de um debate, às custas
do amor, a ser feito em longo prazo.
Estados Unidos, 2012, 109 min
De Joss Whedon
Com Amy Acker, Alexis Denisof, Fran Kranz, Clark Gregg, Nathan Fillion