Infelizmente tendo seu lançamento restrito em DVD, o novo longa de Gus Van Sant acabou por passar despercebido pelo público e crítica brasileira. Temática um tanto distante daquilo que Van Sant tratou por tanto tempo, é curioso experimentar um filme como Terra Prometida depois do drama agridoce de Inquietos. Curioso, pois mesmo sendo um filme de áurea política ativista, o diretor encontra no engajamento político social de Matt Damon e John Krasinski (que roteirizam o longa) uma forma de explorar um personagem que ele e Damon criaram com brutal sutileza há 15 anos atrás. Sim, a muito mais de Will Hunting (Gênio Indomável)
Partindo do que Damon e Krasinski
-ingenuamente- têm a dizer sobre manipulação de uma indústria de gás natural numa
pequena cidade do interior dos Estados Unidos, a micro trama de Terra Prometida
sobre os conflitos modernos e a pacata vida interiorana acaba por refletir seu
discurso muito mais na moral do homem (no caso, do personagem de Matt Damon),
quanto às decisões sociais, em prol do próximo, do que arriscar-se em ser um
cinema denúncia sobre o que costumeiramente acontece nas fronteiras desse eixo
tratado no filme. De certa forma, a ingenuidade aqui acarreta no
desenvolvimento tênue do cinema de Van Sant, que se torna uma conseqüência,
principalmente, pela naturalidade com a qual a câmera do diretor vaga pela
fábula e o terror social de personagens comuns, tentando sobreviver com o
restante de dignidade que lhes resta. Já os aspectos ativistas se preenchem ao
envolvimento pessoal dos atores, dando validade e honestidade as questões
levantadas; sendo até uma singela homenagem aos trabalhadores interioranos que
submergem as necessidades industriais após seus interesses terem sido supridos.
Daquilo que os aspectos naturalistas do cinema de Van Sant têm a explorar junto
a maturidade dos envolvidos, Terra Prometida se vê voltando no tempo e resgatando
ideais sociais (e emocionais) de um personagem que imortalizado em Gênio Indomável. Ao
passo que o desenvolvimento de Steve Butler (Matt Damon) em Terra Prometida é
um espelho do amadurecimento de Will Hunting, o experimentalismo de Van Sant à
custa de personagens comuns delineia as sensações agridoces de relações
interpessoais adjunto aos conflitos pré-estabelecidos a elas, subvertendo,
assim, o ideal documental do filme, injetando doses sutis de melodrama e
mantendo a linearidade conspícua no tratamento humano e fiel dos personagens
ali estudados.
Prezando sempre pela notoriedade
dos sentimentos e da concepção do argumento, a melancolia carregada do cinema
de Gus Van Sant encontra em
Terra Prometida um equilíbrio necessário, que acaba por
denotar não apenas a gentileza do diretor com o manifesto de Damon e Krasinski,
que o acolheram ao projeto, mas também por ser um atestado da transição
cinematográfica de um realizador que procurou nas peculiaridades sociais e
humanas uma forma de transfigurar emoções notáveis ao público e exorcizar os
dilemas compilados a trajetória da vida. Para além do que o cinema tem a
oferecer na impressão de imagens com respostas aos questionamentos vivenciais,
a visão de Gus Van Sant sobre a vida e sobre o cinema é na verdade um reflexo
do que nós, e tampouco ele, conseguimos definir. É instável e inconstante -e nunca
palpável-, mas há um sentido.