Não é por acaso que se foram mais de 30 anos até que alguém
se arriscasse a fazer um filme sobre a corrida do ouro brasileira no que já foi
o maior garimpo a céu aberto do mundo, a Serra Pelada, localizada no estado do
Pará. Sobrecarregado desde o início com a missão de contextualizar a época, o
garimpo e a trama que nela se desenvolve, o corajoso (ou oportunista?) Heitor
Dhalia, dos questionáveis “Nina” e “À Deriva”, estréia “Serra Pelada” nesse fim
de semana, em todo país, em meio a um turbilhão de questionamentos sobre sua
capacidade quanto realizador, mas em celebração ao momento atual do cinema
nacional.
Numa trama tipicamente bem intencionada onde dois amigos (Juliano
Cazarré e Júlio Andrade), no início dos anos 80, saem de São Paulo e partem
para a busca do ouro em
Serra Pelada almejando ficarem ricos é o pretexto para o qual
seria a exploração marginal de um Brasil bruto e brega. Ao contrário, o que se
encontra nesse estudo de Dhalia é uma colagem de fragmentos de gêneros transpostos
por uma camada plástica de seriedade, advinda do cinema pós Cidade de Deus, que
encontra certa semelhança também com Tropa de Elite pela narrativa em off, na
qual o diretor se utiliza das imagens como num exercício documental, que por
vezes até consegue se sobressair diante da falta de substância narrativa para a
desenvoltura melodramática de seus personagens – principalmente a de Sophie
Charlotte, de longe a mais interessante da trama –, mas que nunca chega em seu
apogeu estético, devido, em boa parte, as férulas fílmicas do diretor que aqui
ultrapassam o limite do aceitável. Tão equivocado quanto plausível, a pintura
de Serra Pelada realizada no longa em questão acaba servindo apenas de pano de
fundo para uma trama gangster que se quer ser realista – os toques de Heitor
com a câmera tremendo o tempo todo denotam isso –, deixando o espectador
afrontado por imagens verdadeiramente cinematográficas de Serra Pelada.
Ao passo que Juliano Cazarré teria em seu personagem a
chance de mostrar o porque é um dos atores mais interessantes a surgir nas
telonas nos últimos anos, é apenas em momentos contracenando com Sophie
Charlotte que sua performance consegue estabelecer-se crível diante da câmera.
O elenco de apoio, apesar dos pesares, se esforça bastante, porém, sempre a um
passo atrás do desenvolvimento narrativo dos protagonistas, esses que, por sua
vez, lutam por um desfecho menos óbvio, sustentando seus personagens com o potencial
enérgico de suas origens. A fim de transportar uma realidade (não muito distante)
do panorama brasileiro (atual), o filme de Heitor Dhalia surge como uma ficção
que não sustenta sua ambição e acaba servindo apenas de um ilustrativo didático
do que fora a corrida de ouro na El Dorado brasileira.
Serra Pelada (★★)
Brasil, 2013, 120 min
De Heitor Dhalia
Com Juliano Cazarré, Júlio Andrade, Sophie Charlotte, Wagner Moura