quarta-feira, 16 de outubro de 2013

[Crítica] Serra Pelada


Não é por acaso que se foram mais de 30 anos até que alguém se arriscasse a fazer um filme sobre a corrida do ouro brasileira no que já foi o maior garimpo a céu aberto do mundo, a Serra Pelada, localizada no estado do Pará. Sobrecarregado desde o início com a missão de contextualizar a época, o garimpo e a trama que nela se desenvolve, o corajoso (ou oportunista?) Heitor Dhalia, dos questionáveis “Nina” e “À Deriva”, estréia “Serra Pelada” nesse fim de semana, em todo país, em meio a um turbilhão de questionamentos sobre sua capacidade quanto realizador, mas em celebração ao momento atual do cinema nacional.

Numa trama tipicamente bem intencionada onde dois amigos (Juliano Cazarré e Júlio Andrade), no início dos anos 80, saem de São Paulo e partem para a busca do ouro em Serra Pelada almejando ficarem ricos é o pretexto para o qual seria a exploração marginal de um Brasil bruto e brega. Ao contrário, o que se encontra nesse estudo de Dhalia é uma colagem de fragmentos de gêneros transpostos por uma camada plástica de seriedade, advinda do cinema pós Cidade de Deus, que encontra certa semelhança também com Tropa de Elite pela narrativa em off, na qual o diretor se utiliza das imagens como num exercício documental, que por vezes até consegue se sobressair diante da falta de substância narrativa para a desenvoltura melodramática de seus personagens – principalmente a de Sophie Charlotte, de longe a mais interessante da trama –, mas que nunca chega em seu apogeu estético, devido, em boa parte, as férulas fílmicas do diretor que aqui ultrapassam o limite do aceitável. Tão equivocado quanto plausível, a pintura de Serra Pelada realizada no longa em questão acaba servindo apenas de pano de fundo para uma trama gangster que se quer ser realista – os toques de Heitor com a câmera tremendo o tempo todo denotam isso –, deixando o espectador afrontado por imagens verdadeiramente cinematográficas de Serra Pelada.

Ao passo que Juliano Cazarré teria em seu personagem a chance de mostrar o porque é um dos atores mais interessantes a surgir nas telonas nos últimos anos, é apenas em momentos contracenando com Sophie Charlotte que sua performance consegue estabelecer-se crível diante da câmera. O elenco de apoio, apesar dos pesares, se esforça bastante, porém, sempre a um passo atrás do desenvolvimento narrativo dos protagonistas, esses que, por sua vez, lutam por um desfecho menos óbvio, sustentando seus personagens com o potencial enérgico de suas origens. A fim de transportar uma realidade (não muito distante) do panorama brasileiro (atual), o filme de Heitor Dhalia surge como uma ficção que não sustenta sua ambição e acaba servindo apenas de um ilustrativo didático do que fora a corrida de ouro na El Dorado brasileira.

Serra Pelada ()
Brasil, 2013, 120 min
De Heitor Dhalia
Com Juliano Cazarré, Júlio Andrade, Sophie Charlotte, Wagner Moura






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