“All the
double-edged people into schemes. They make a mess, then go home and get clean.
You’re my best friend and we’re dancing in a world alone. A world alone,
we’re all alone.”
Ao contrário da equivocada análise de que Pure Heroine se
trata de uma crítica pessoal de Lorde à manipulação massiva da mídia sobre os
jovens da era digital, é mais interessante (e vantajoso) analisá-lo como uma
subversão desse engodo analítico, banalizado em canções pop auto
ajuda que ela abraça sem medo algum, para entender que, de fato, o álbum é
concebido pelo devaneio existencial da cantora, num ritual de passagem. E
essa faceta, pressuposta em todo álbum pelo melancólico synth pop orquestrado por
Joel Little, só é compreendida ao seu fim, com “A World Alone”, faixa acentuada
num ritmo dark wave/dream pop próximo ao The XX, que contextualiza o que ela inicia em
“Tennis Court”; ao tratar abertamente da juventude inconsequente congênita da
era da informação e por contrapor a brincadeira feita em “Royals”, carro chefe
do álbum, na qual ela proclama o desejo de apenas sonhar (we’re driving Caddilacs in our dreams), diferente da visão realista
e intrínseca ao fim de “A World Alone”, onde ela se encontra aterrorizada pela
solidão iminente da transição adolescente para a fase adulta (we’re dancing in a world alone).
Sempre se utilizando de um tópico exploratório – juventude,
dinheiro, fama, mídia, solidão etc - para falar sobre seus anseios e medos,
Lorde, apesar de ser tão ingênua quanto complexa (Glory & Gore), tem uma
inegável capacidade para escrever boas canções (Buzzcut Season & Team).
Levando em conta seus agora 17 anos, a jovem, auxiliada pelas produções
minimalistas e conceituais de Little, se sobressai do nicho pop adolescente principalmente
por utilizar sua voz como extensão do que ela expõe em suas letras. E
curiosamente não sobram comparações com Lana Del Rey na blogosfera alternativa
quanto a isso.
Para além do fato de Pure Heroine pertencer ao pop
camisa-de-força que a cena independente tem tanto apostado suas fichas, e das
bobagens que a cantora anda soltando pelas redes sociais em relação a outras
artistas pop, as camadas com as quais Lorde sintetiza sua inexperiência e o
desenvolvimento de uma identidade própria denota uma maturidade expansiva que
se contrapõe em canções mais simplórias e bobas (400 Lux & White Teeth
Teens) junto às essencialmente complexas (Ribs & Team), numa miscigenação
de elementos que caracterizam a personagem heroína dos deslocados criada por ela para exorcizar seus próprios fantasmas (this dream isn’t feeling sweet, we’re
reeling through the midnight streets).
Lorde - Pure Heroine (★★★½)
Universal, Nova Zelândia, 2013