quarta-feira, 16 de outubro de 2013

[Crítica] Lorde - Pure Heroine



“All the double-edged people into schemes. They make a mess, then go home and get clean. You’re my best friend and we’re dancing in a world alone. A world alone, we’re all alone.”

Ao contrário da equivocada análise de que Pure Heroine se trata de uma crítica pessoal de Lorde à manipulação massiva da mídia sobre os jovens da era digital, é mais interessante (e vantajoso) analisá-lo como uma subversão desse engodo analítico, banalizado em canções pop auto ajuda que ela abraça sem medo algum, para entender que, de fato, o álbum é concebido pelo devaneio existencial da cantora, num ritual de passagem. E essa faceta, pressuposta em todo álbum pelo melancólico synth pop orquestrado por Joel Little, só é compreendida ao seu fim, com “A World Alone”, faixa acentuada num ritmo dark wave/dream pop próximo ao The XX, que contextualiza o que ela inicia em “Tennis Court”; ao tratar abertamente da juventude inconsequente congênita da era da informação e por contrapor a brincadeira feita em “Royals”, carro chefe do álbum, na qual ela proclama o desejo de apenas sonhar (we’re driving Caddilacs in our dreams), diferente da visão realista e intrínseca ao fim de “A World Alone”, onde ela se encontra aterrorizada pela solidão iminente da transição adolescente para a fase adulta (we’re dancing in a world alone).
Sempre se utilizando de um tópico exploratório – juventude, dinheiro, fama, mídia, solidão etc - para falar sobre seus anseios e medos, Lorde, apesar de ser tão ingênua quanto complexa (Glory & Gore), tem uma inegável capacidade para escrever boas canções (Buzzcut Season & Team). Levando em conta seus agora 17 anos, a jovem, auxiliada pelas produções minimalistas e conceituais de Little, se sobressai do nicho pop adolescente principalmente por utilizar sua voz como extensão do que ela expõe em suas letras. E curiosamente não sobram comparações com Lana Del Rey na blogosfera alternativa quanto a isso.

Para além do fato de Pure Heroine pertencer ao pop camisa-de-força que a cena independente tem tanto apostado suas fichas, e das bobagens que a cantora anda soltando pelas redes sociais em relação a outras artistas pop, as camadas com as quais Lorde sintetiza sua inexperiência e o desenvolvimento de uma identidade própria denota uma maturidade expansiva que se contrapõe em canções mais simplórias e bobas (400 Lux & White Teeth Teens) junto às essencialmente complexas (Ribs & Team), numa miscigenação de elementos que caracterizam a personagem heroína dos deslocados criada por ela para exorcizar seus próprios fantasmas (this dream isn’t feeling sweet, we’re reeling through the midnight streets). 

Lorde - Pure Heroine (★★★½)
Universal, Nova Zelândia, 2013




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