"Andrea Phillips: Ok. Você está bem?
Capitão Richard Phillips: Sim.Andrea Phillips: Você pensa que essas viagens se tornam mais fáceis, mas é totalmente o contrário.Capitão Richard Phillips: Bem, me sinto da mesma forma.Andrea Phillips: Eu sei que é isso que nós fazemos, esta é nossa vida. Mas parece que o mundo está se movendo tão depressa, tudo está mudando tanto.Capitão Richard Phillips: Está mesmo. Vou te contar algo, não vai ser fácil para os nossos filhos. Eles estão crescendo em um mundo completamente diferente daquele que nós fomos criados.Andrea Phillips: Pois é.Capitão Richard Phillips: Sabe, nossos dois filhos estão se dando muito bem, mas eu me preocupo com Danny não levando a escola a sério. Eu odeio o ver perdendo aulas, pois quando ele crescer isso pode ser um problema na procura de trabalho, sabe? A competição lá fora. Quando eu comecei tudo era mais fácil se você se esforçasse e fizesse seu trabalho. Mas para os jovens de agora, as empresas querem algo rápido e barato. Cinquenta garotos competem pela mesma vaga. Tudo está tão diferente, girando rápido. Você precisa ser forte pra sobreviver a isso tudo.Andrea Phillips: Eu entendo o que você quer dizer. Vai ficar tudo bem, não é?Capitão Richard Phillips: Com certeza. Tudo vai ficar bem.Andrea Phillips: Eu amo você.Capitão Richard Phillips: Eu amo você também.Andrea Phillips: Tenha uma viagem segura.Capitão Phillips: Eu te ligo quando chegar."
É basicamente
na análise desse breve e apreensivo diálogo estabelecido por Tom Hanks e
Catherine Keener nos primeiros instantes de Capitão Phillips que Paul
Greengrass constrói a tensão documental de um sequestro que argumenta além da
crueza iminente do universo capitalista. Orquestrado com tremenda maestria, em
âmbito a que as possibilidades dum exercício autodidata têm a oferecer, Capitão
Phillips é exposto ao espectador a fim de permutar as camadas humanas através
da agressividade impressionista do cinema do diretor.
Divido em dois
atos que compreende a tênue do estilo -e da mão demasiadamente pesada de
suspense-, o longa explora a mise en scène em função de um estudo que
estabelece o espectador como parte dos acontecimentos ali documentados,
colocando-o à mercê da personificação mítica de Tom Hanks e de sua consequente
(des) construção heroica em
cena. Não fugindo muito daquilo que já
fora experimentado por Greengrass lá em
O Ultimato Bourne e, principalmente, em
O Vôo United 93,
Capitão Phillips retoma as ideias do cinema documental em função de extrair dos
personagens uma atmosfera realista, que capta toda a tensão do homem como
objeto da ação subvertida de diálogos retos, definindo a intenção da imagem e
dos fatos conseqüentes da trama, independente de sua previsibilidade. Por de
trás das camadas estéticas, e dum emaranhado de elementos básicos de suspense,
Greengrass esconde uma faceta melodramática que é compreendida justamente na
utilização do homem e sua luta por sobrevivência como matriz de seu cinema. A
agressividade introspectiva, nítida nos cortes bruscos e nos planos trêmulos,
quase como uma narrativa a parte do filme, confundida muita vezes como frieza
calculada, caracteriza, na verdade, a harmonia de sentimentos entre o homem e o
cinema, explorada em
Capitão Phillips pela personificação
inquieta e pelos olhos preocupados de Tom Hanks (em perfeita representação do
homem -de família- americano).
Ainda que
acometido pelo equívoco da autoafirmação do diretor (que pra mim já havia sido
confirmado lá em
O Ultimato Bourne ), a perspectiva da relação
dicotômica do homem e o meio -independente da moral e dos maniqueísmos sociais-
transforma os impulsos desses sistemas (de cinema) de Greengrass em conceito
àquilo que a nova geração de cineastas vem absorvendo de fórmulas que se
utilizam de arquétipos utópicos, esquecendo que a harmonia de uma trama se
encontra especificamente no diálogo entre o homem e o cinema. Para além do
espetáculo -visual e sonoro- que Greengrass nos proporciona em
Capitão Phillips , há nas beiradas uma
preocupação em legitimar o cinema não apenas como arte, mas como força vital
aos processos de transição do homem e da natureza.
Estados Unidos, 2013, 134 min
De Paul Greengrass
Com Tom Hanks, Barkhad Abdi, Catherine Keener, Barkhad Abdirahman, Max Martini
-Visto no UCI Palladium - Curitiba, em digital, como convidado da Espaço-Z.
-Visto no UCI Palladium - Curitiba, em digital, como convidado da Espaço-Z.