sexta-feira, 8 de novembro de 2013

[Crítica] M.I.A - Matangi


Não fosse o lançamento do /\/\/\Y/\, lá em meados de 2010, seria bastante cômico um disco como o Matagi surgir na discografia de M.I.A. Cômico, pois aos 38 anos a cantora ainda vem tentando firmar uma imagem (ou na verdade ela está brincando com sua própria imagem?) que desenvolvera ao longo de sua carreira –e que para a mídia musical se perdera no lançamento de Paper Planes- adjunto ao prestígio adquirido (com a mesma). De todo modo, Matangi, seu quarto álbum de estúdio, tem muito mais a dizer sobre M.I.A, não só por reverenciar seu nome, do que necessariamente sobre sua música ou seu estilo.

Em uma ótima entrevista a Pitchfork, a cantora revelou que suas referências iam além do que se ouve atualmente na indústria (mainstream). Além de ser seu nome, Mantangi se refere, também, a deusa da música. Por mais equivocada que sua declaração tenha sido, é curioso observar que toda a estrutura do Matangi surge justamente da plasticidade nata desse cenário (“if we’re gonna live once, why we keep doing the same shit?” – Y.A.L.A), e ao passo que a rapper se utiliza desses elementos (pop) para a construção autoral -e irônica- de seu estilo, como conseqüência, o disco adquire certas camadas (Come Walk With Me/Bring The Noize), que aos poucos se tornam a matriz do argumento levantado por M.I.A. E é as custas dos questionamentos sobre a flexibilidade dessas camadas (que na verdade se referem bem mais as declarações contraditórias da artista) que Mantangi se torna um álbum ímpar na discografia de M.I.A, principalmente, por ser igualmente fascinante e redundante. Ao contrário do que fora experimentado no incompreendido (e brilhante) /\/\/\Y/\, que possuía em todo o conceito pós globalizado uma acidez genuína, Matangi, apesar de ser concebido na sombra de seu antecessor, é bem mais um manifesto de M.I.A (Boom Skit) em relação a sua carreira e suas origens –compreendidos nos nuances de arabic pop e worldbeat em contraste as batidas recicladas do Kala e do Arular- do que uma crítica a indústria, ou uma extensão de seu ativismo popular (daí a ideia de que o disco possua uma áurea “espiritual”, como a própria disse em entrevista); que apesar de constituírem boa parte da arquitetura do disco, já não são mais a base para o discurso agressivo de M.I.A.



Ainda que Matangi possivelmente seja visto como um disco saturado e contraditório dentro da linhagem peculiar da construção imagética/estética de M.I.A -em função de sua (frágil) rebeldia-, não há como negar que, ao extrair de batidas eletrônicas acentuada densidade (Exodus/Know It Ain’t Right) -em grande parte à compilação distópica de elementos-, M.I.A, no ápice de sua genialidade, consegue captar toda a agressividade das canções num ensaio lírico que difere Matangi de seus outros trabalhos justamente por assumir essa posição polarizada. Como extensão daquilo que seu discurso aponta com convicção, Matangi é, em toda a difusão de gêneros e harmonização de batidas, um disco completamente maduro, não apenas pelo fato de M.I.A orquestrá-lo em auto-referência (“if you gonna be me, you need a manifesto”), mas por não distanciar suas inspirações das estratégias formulísticas de sua visão crítica, mantendo crível a honestidade sonora de sempre.

M.I.A - Matangi (★★★★) 
N.E.E.T Recordings/Interscope, Estados Unidos, 2013




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