sexta-feira, 1 de novembro de 2013

[Crítica] Arcade Fire - Reflektor



É curioso como a cada novo disco as expectativas geradas pelos fãs e pela blogosfera independente em torno do Arcade Fire os colocam num patamar de banda imaculada do cenário alternativo. Talvez o maior álbum da banda, talvez o menor álbum da banda, diversas são as questões levantadas quanto à validade de seu som. Todavia, o que se sabe a respeito do quarto álbum de estúdio do Arcade Fire, Reflektor, é que sua música já não pertence mais ao nicho alternativo no qual surgiu e, ao explorar a globalização generalizada de elementos sonoros no disco, eles assumem uma nova (e compreensível) faceta, que já vinha sendo moldada desde seu antecessor, The Suburbs. 

Reflektor é divido em dois atos. No primeiro ato, a banda retoma ideias anteriores de seus álbuns (especialmente o Funeral, de 2004) para mesclar elementos do indie rock da banda com sons atuais da música (eletro) pop, mesmo que, em boa parte, utilize-se de referenciais dos anos 80 (David Bowie, que participa da faixa título, talvez seja a maior influência aqui) para manter a linha vintage e sofisticada da estética de seu som. Já em seu segundo momento, o disco propõe-se a explorar uma versatilidade um pouco mais dinâmica dos (des) encontros vocais de Régine Chassagne e Win Butler, que continuam a brincar com seu relacionamento off stage nas canções, mas sempre intensificando o potencial sonoro do disco, visto, principalmente, em faixas melodramáticas (Afterlife / Supersymmetry), ou na brincadeira estética das vertigens do neo noir numa balada romântica marginal (Porno). 


Sendo o disco um estudo das possibilidades que o sucesso crítico e de público trouxeram para a banda, a busca realizada pelo Arcade Fire em Reflektor se concentra em desmistificar o suposto virtuosismo pragmático no qual eles se conceberam. E para além das influências ou das simbologias subvertidas em (muitas de) suas canções, a composição sonora aqui surge dum ideal (sonoro) próprio da indústria fonográfica, mas que, numa ousadia esperta da banda, é transformado num exercício/estudo estético em que os gêneros e subgêneros às canções compiladas são perpetuados em função de uma (auto) generalização, sem desprendê-los da essência que os fez emergir ao aclame mundial. 

Ao passo que as intenções dessa nova roupagem que a banda aderiu ganhem significado numa atmosfera contemplativa e bastante singela de canções que soam como verdadeiros hinos de uma geração (Reflektor / We Exist / It’s Never Over (Oh Orpheus)), Reflektor vem não apenas para denotar momentânea nostalgia para os fãs, mas eternizar de vez o nome da banda no cenário musical (pós globalizado), distinguindo-os justamente pelo fato de serem indefiníveis. Não há mais o que se questionar a respeito do Arcade Fire.

Arcade Fire - Reflektor (★★★★) 
Merge/Sonovox Records, Estados Unidos/Inglaterra, 2013





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