Bastidores de filmes às vezes dão histórias tão interessantes quanto o próprio filme que realizam. Há inúmeros relatos backstage envolvendo clássicos de O Mágico de Oz a O Bebê de Rosemary, ou o próprio O Poderoso Chefão que, mesmo hoje sendo considerado um dos filmes mais importantes do Cinema, quase não saiu do papel. Alguns casos são tão instigantes que ganham as telas em forma documental, como Room 237, que explora teorias envolvendo O Iluminado de Stanley Kubrick, ou em forma de melodrama, como acontece
A visão equivocada de Lee Hancock
para a longa negociação entre Disney e Travers pode até cair nas graças dos
menos informados a respeito do caso que o cerca, mas fato é que muito do que se
rumoreja a respeito das situações em que ambos Travers e Disney se colocaram
para chegar ao clássico filme que Mary Poppins é hoje é vagamente retratado
aqui. E mesmo que a intenção de Lee Hancock não fosse ser verossímil quanto à
História, o filme ainda é um grande emaranhado de boas intenções ocas. A falta
de tato ou mesmo a sensibilidade para tratar personagens antiquados e
emblemáticos cabe ao elenco realizar todo o trabalho sujo do diretor, como
Sandra Bullock fez em Um Sonho Possível ,
papel que surpreendentemente lhe rendeu o Oscar de melhor atriz, e agora Emma
Thompson, que se entrega sem ressalvas à caricatura de sua personagem e
consegue dar ao filme uns (poucos) bons momentos de honestidade. Partindo do
princípio de que as lágrimas significam que o filme está no caminho certo, essa
estranha necessidade de Lee Hancock melodramatizar cada ação dos personagens a
fim de creditá-los de boa índole, ainda mais num filme que retrata uma
realidade conhecida (de uma minoria) do público, faz com que as situações se
entrelacem num evento contraditório, o qual limita qualquer chance real de se
fazer justificável às lágrimas que o espectador pode ou não compartilhar com a
história.
Não mais que um caça-níquel mal
feito, e uma das traduções mais tenebrosas de títulos de filmes, Walt Nos Bastidores de Mary Poppins de relevante só tem mesmo a
co-relação com o texto no qual se inspira, pois a discrepância narrativa entre
os contextos que Lee Hancock deseja (re)tratar acaba pendendo apenas para
envergonhar a marca a qual reproduz e os valores éticos e verdadeiros que
(ainda que poucos diretores o tenham feito) acreditavam-se existir na indústria
de Hollywood atualmente.
Estados Unidos/Inglaterra/Austrália, 2013, 125 min.
De John Lee Hancock
Com Tom
Hanks, Emma Thompson, Paul Giamatti