E já que irremediavelmente nos próximos meses o assunto mais falado (além do novo filme do Christopher Nolan e a primeira parte do final de Jogos Vorazes) vai ser o que pode ou não pintar nas indicações do Oscar 2015, alguns exemplares já estrearam ou tiveram sessões especiais por aqui. Garota Exemplar (Gone Girl) do David Fincher é um dos grandes filmes da temporada. E só pelo fato do Fincher ter sido tachado de misógino (o que ele não é!) eu já acho este o filme mais interessante que ele já fez desde... hmm, Seven. Num ano em que o feminismo foi discutido, reinventado e banalizado no cinema como em muito tempo não se via, Garota Exemplar veio (re)afirmar Fincher como um visionário. Mesmo o absorvendo mais como um ensaio fetichista-pessimista da deturpação do amor, é singela a homenagem do cara às femme-fatales que enriqueceram obras de diretores como Brian De Palma e Paul Verhoeven. E o que se viu em 2014, principalmente depois da experiência dilacerante da Scarlett Johansson (re)descobrindo sua feminilidade em Sob a Pele, foi que os (sub)gêneros de Hollywood nunca deram tanto vigor e substância às mulheres como agora. Uns grandes acertos (O Melhor Lance, do Tornatore), outros equívocos sem precedentes (Mulheres ao Ataque, do Cassavetes), o cinema esse ano teve um só corpo: e esse foi o da mulher.
Outra coisa que vale ressaltar, e que sempre vejo muita gente falando por aí, é sobre o cinema argentino e suas incansáveis tentativas de se firmar como uma indústria irreverente. O filme candidato ao Oscar deles desse ano, Relatos Selvagens, é outra prova de que eles realmente se levam a sério. Pois eu, particularmente, lavo minhas mãos. Eu já acho um saco os discursinhos do Ricardo Darín sobre a “máquina de dinheiro” que é o cinema Hollywoodiano, mas vê-lo assumindo a pose reaça do Michael Douglas de Um Dia de Fúria num dos exercícios mais insuportáveis de black comedy desde sempre num dos curtas do filme do argentino Damián Szifrón, só me faz crer que Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, no fim das contas, é um pedaço de publicidade bem simpático.
Por fim, eu fiquei de escrever
algo mais elaborado sobre os 12 anos das filmagens de Boyhood, que
infelizmente vai ter estreia limitada no Brasil dia 30 de Outubro, mas vou
resumidamente só dizer que esse é o filme mais lindo que alguém poderia fazer
esse ano. Diluir o tempo através das experiências do
protagonista aqui é mais do que um experimento sem precedentes, é uma forma de
encontrar na imagem e no tempo do outro aquilo que reflete e exprime nossas próprias
incertezas sobre esse ritual de passagem, principalmente para aqueles que,
assim como o jovem Mason, ainda questionam sua moral nessa história que
chamamos de vida.