O ano realmente não está fácil para diretores que vinham de obras cultuadíssimas por crítica e/ou público. A começar pelo novo longa de Derek Cianfrance, O Lugar Onde Tudo Termina (The Place Beyond The Pines), que apesar de ter sido tão bem recebido por público quanto o estupendo Namorados Para Sempre (Blue Valentine), pouco fez jus ao que seu antecessor havia deixado como promessa. Outro diretor que parece ter perdido seu brilho foi Nicolas Winding Refn, com o péssimo Only God Forgives, uma espécie de experimentação do exercício de estilo feito no orgasmo cinematográfico de 2011, Drive. E a grande surpresa desse seleto grupo foi Terrence Malick, com Amor Pleno (To The Wonder), que entrou em cartaz no país nesse último final de semana, que não só fez seu pior filme, mas também o pior uso de um cinema que ele mesmo ajudou a popularizar.
O longa tem como premissa o (anti) romance de Neil (Ben Affleck) e Marina (Olga Kurylenko), que
após uma visita à Paris, voltam para Oklahoma, onde a relação amorosa dos dois
começa a se desgastar e, junto disso, o questionamento daquele “amor pleno”
vai lentamente ganhando sua verdadeira forma.
É basicamente desse ponto de vista que o filme se desenvolve. Com todo o
tom lírico e as paisagens quase desenhadas - presentes em toda a filmografia do
diretor. E segundo consta, Amor Pleno, é baseado em eventos reais, da própria
história de vida de Malick, ou seja, é uma obra cujo cunho pessoal é enorme, e
que talvez necessite de um olhar ainda
mais clínico, do que de costume, para entender o que tanta sutiliza em cena
queira realmente representar.
Terrence é
conhecido pelos grandes hiatos que seus filmes possuem um do outro. Seu último
longa, A Árvore da Vida ( The Tree Of Life), não tem nem 2 anos. E, provavelmente,
por esse curto espaço de tempo e uma guinada criativa que deu-se no
envolvimento de três novos projetos, Amor Pleno, acaba por reutilizar muitos
esquetes que tornaram A Árvore da Vida o que é, e que aqui soam apenas como uma
mão relaxada e totalmente artificial do diretor ao tentar (re)criar um mesmo
efeito emocional e espiritual que seu longa anterior fez com tanta proeza. Nada
funciona naturalmente, e tudo parece ser banalizado, do argumento, ao estilo de
filmar e ambientar uma cena, seja os grandes (e quase sempre magníficos) planos
abertos, ou os acompanhamentos de câmera na dança dos corpos em movimento.
Exceto pelo
fato de Malick conseguir transportar um sentimento próprio através do personagem
interpretado por Ben Affleck - uma espécie de alter ego do diretor -, outro
ponto ao qual Amor Pleno deixa completamente a desejar é na química que envolve
seu elenco, onde temos uma Olga Kurylenco totalmente perdida nos sentidos,
rodopiando a todo momento, criando uma versão menos agraciada de Jessica
Chastain. Do outro lado, Rachel McAdams, que entra muda e sai calada. E ainda Javier
Bardem, numa subtrama sobre a divindade, interpretando um padre que questiona a
existência de Deus, fazendo o mesmo papel avulso que Sean Penn executou em A
Árvore da Vida.
Apesar do
questionamento honesto que Malick realiza sobre o que é o “amor pleno”, como
devemos nos comportar diante dele, como
controlá-lo, ou de não se ter nenhum controle dele, o desenvolvimento do
argumento e da narrativa pouco emocionam e envolvem, criando-se (quase) nenhum
vínculo com os personagens, que, longe de dizerem algo, aparentam, apenas, ser
meros objetos de um cinema que se utiliza unicamente pela beleza em ser, e não
do ser.
Amor Pleno (★★½)
Estados Unidos, 2012, 121 min
De Terrence Malick
Com Ben Affleck, Olga Kurylenco, Javier Bardem e
Rachel McAdams
-Visto no Cineplex do Shopping Novo Batem - Curitiba