Meu primeiro contato com um filme do Baz
Luhrmann foi em meados de 2010, após ter lido “CINEMA – Entre a
realidade e o artifício”, de Luiz Carlos Merten, onde um capítulo é dedicado ao futuro do cinema digital. O filme em questão era Moulin
Rouge, que eu já tinha ouvido falar, por ter sido indicado ao Oscar, e por
ser o grande divisor de águas da carreira do diretor.
Confesso que o filme não
me agradou da maneira como esperava – ainda mais por se tratar de uma obra tão
cultuada por críticos e amigos próximos e por envolver tanto a cultura pop que
muito me cativa.
Desde seu primeiro longa ficou claro que a proposta
de Lurhmann era estudar a relação de personagens desafortunados no amor, que se
perderam num determinado espaço/tempo e, juntos, tentam reencontrar um ao outro
e a si mesmos. Seria funcional se o argumento em seus filmes encontrasse
naturalmente o seu “cinema alegórico”, e não com a discrepância que vemos em
filmes como Romeu & Julieta e no atual O
Grande Gatsby.
Não tanto pelo excesso de estilo, ou pela excentricidade (pessoal) do diretor, nítidos em sua filmografia, mas – principalmente – no que diz respeito
ao retrato dos personagens e do universo ao qual pertencem, que me parece o
grande equívoco de Luhrmann ser considerado um grande diretor. E pra mim não é
novidade que lhe tenham concedido uma nova adaptação de O Grande Gatsby,
clássico de F. Scott Fitzgerald, já que se trata de uma obra que possui todas
as possibilidades de experimentação pra criação de um espetáculo luhrmanniano. Como disse Kleber Mendonça Filho: "dê 100 milhões de dólares para Baz Luhrman e ele te leva
para Fru-Fru-Landia por mais de 2 horas". E é exatamente pelo fato de Gatsby ter todos os
atributos necessários e todo apelo pop, que Luhrmann encontrou não só um
desafio impossível de ser realizado com maestria, mas como também uma nova
grande bomba-relógio na sua carreira, principalmente porque Gatsby vem logo
depois do borrão que foi Austrália, uma tentativa falha de inserir
a plasticidade do diretor em meio a um filme que se quer ser épico.
A visão moderninha de Gatsby, unindo um seleto
grupo de artistas pop consagrados cumprindo o papel da trilha sonora repleta de
hits dançantes e melodramáticos, trás Tobey Maguire como um jovem aspirante a
escritor que se envolve na conturbada relação de seu vizinho magnata, Gatsby
(um Leonardo DiCaprio em decadência), por quem tem uma curiosa admiração em excesso,
e sua doce prima, Daisy (a encantadora Carey Mulligan). Talvez uma trama
funcional na mão de um diretor (des)preocupado com a plastificada vida de seu
protagonista e com o excesso que a experiência em 3D ou o deslumbre visual tem
a oferecer, mas na visão de Lurhmann é difícil criar qualquer empatia com trama
e personagens, pelo fato de seu cinema nunca coexistir completamente com o
universo de seus personagens. E na colagem de subversões e subtramas, entre uma
festa de arromba e outra, o épico de F. Scott Fitzgerald perde todo seu charme
e profundidade dramaturgica, ganhando um contorno tão arrogante quanto o do
próprio Jay Gatsby, e sem qualquer conteúdo.
"Chamavam Ed
Wood de “o pior cineasta do mundo”. Evidentemente, o mundo ainda não sabia
que existiria Baz Luhrman." -
Inácio Araújo
Austrália/Estados
Unidos, 2013, 143 min
de Baz Luhrmann
com Leonardo DiCaprio,
Carey Mulligan, Tobey Maguire