segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

[Crítica] A Menina Que Roubava Livros

Histórias que só existem quando lembradas
Obras literárias de grande apelo popular são sempre acometidas pela grande dificuldade numa adaptação cinematográfica, seja tão somente pelo processo de produção – escalação de elenco, direção e equipe técnica -, como expressamente pelos detalhes que compreendem a paixão dos fãs pela literatura do autor. Obra prima de Markus Zusak, A Menina Que Roubava Livros demorou um bom tempo para ganhar os cinemas, tendo obtido o aval para sua (esperada) estreia no comando de Brian Percival – conhecido por seu trabalho na premiada série Downton Abbey - somente no início de 2013.

Numa releitura bastante dócil, diferente da frieza e contemplação presentes em todos os relatos da estória de Zusak, a visão aérea de Percival para A Menina Que Roubava Livros é a prova de que o cinema sempre pode se submeter às possibilidades narrativas. Não se prendendo a detalhes que cabem somente à literatura, e entregando àquilo que é perceptível aos olhos do espectador, o diretor faz uma acurada construção da heroína Liesel Meminger – interpretada pela irregular (mas bela) Sophie Nélisse – sempre deixando que seus anseios e inocência sejam expressos naturalmente em seus atos, compreendidos por movimentos de câmera tão delicadamente explorados. Quase um estudo sobre o exercício infantil -curioso e inocente- em meio à hostilidade de uma Alemanha em guerra, o horror expressionista da atmosfera visual do filme (sendo o vermelho da bandeira nazista quase um protagonista consequente) se torna por menor meio à relação amigável de Liesel e Rudy (Nico Liersch, encantador), pré-estabelecida nos primeiros instantes do longa em planos no melhor estilo ‘Steven Spielberg, manipulador de audiências’. Para além da notável competência fílmica de Percival quanto à sutileza dos detalhes visuais, os problemas de A Menina Que Roubava Livros se desvendam a partir do momento que seu tato substancial se torna questionável na lentidão rítmica dum segundo momento da narrativa, no qual o comodismo se faz personagem.


Não há hora, dia, nem lugar para ser criança
Tão ingênuo e pueril quanto imperfeito, apesar das entrelinhas e da sensação de fluxo inerte, presente até mesmo na trilha sonora de um John Williams mais do mesmo, o que Percival e elenco – em especial Geoffrey Rush e a maravilhosa Emily Watson – alcançam nessa adaptação bonitinha e eficaz de A Menina Que Roubava Livros é, para além do Cinema em sua forma essencialmente bela e nostálgica, uma forma de amenizar o âmago e a frieza que acomete toda a obra na qual se baseia. Se por um lado o que potencialmente poderia vir ser uma memorável adaptação acaba decepcionando por nunca ser ambiciosa o suficiente, a sutileza de Percival por toda a aventura histórica de Liesel Meminger, em seus 131 minutos, é - em toda comoção - uma prazerosa (e necessária) experiência. 

A Menina Que Roubava Livros (★★) 
Estados Unidos/Alemanha, 131 min, 2013 
De Brian Percival
Com Sophie Nélisse, Geoffrey Rush, Emily Watson




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