Logo na primeira cena, Leonardo e
Giovana conversam à beira da piscina sobre como estão entediados com o marasmo de
suas vidas e o quanto desejavam estar vivendo um romance de verão. Já fica bem
claro na sequência o que (supostamente) se sucederia na trama de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho.
Primeiro longa-metragem de Daniel
Ribeiro, e uma espécie de versão extendida do delicado curta Eu Não Quero
Voltar Sozinho, de 2010, o filme acerta na dosagem comercial e principalmente no
encantamento pelo esmerado trio que o compõe. Mas se lá no curta, ainda que
subjetivamente, as intenções de Leo, Giovana e Gabriel haviam sido perpetuadas
pelo olhar singelo que Ribeiro transpunha à relação do trio entre si, a
profundidade pessoal e emocional esperada para o desenvolvimento dos mesmos no
longa é quase nula.
O escopo da trama do jovem cego que se sente descobrindo o primeiro amor, para além dos aspectos sociais, é tomado por diversos conflitos colaterais
que acabam por tornar sua vida tudo àquilo que tanto almejara naquela tarde à
beira da piscina. Leornado, apesar de cego, é carregado por uma visão muito
clara das coisas, e mesmo que ainda bastante suscetível à ingenuidade juvenil, sua
ternura possui um toque levemente amargo, visível quando o mesmo confronta sua
plenitude ao estar ausente de seus amigos e familiares. Talvez por ser um
personagem que precise de um tratamento minucioso, quase clínico, em seu
desenvolvimento, Leonardo, por carregar essa carga emocional potencial, leva o
filme a um pertinente questionamento sobre quais são os anseios, frustrações e medos
daqueles personagens, que apesar de sutilmente construídos com carinho por
Ribeiro, não conseguem ser experimentados pelo público a ponto de fugir da
experiência do meramente agradável. É-me curioso também como o diretor tem
tanto a explorar, mas prefere traçar uma linha limitando o diálogo do filme com
o público (que não seja seu alvo), a fim de concedê-lo uma aparência higienizada
e amplamente receptível. Ribeiro parece não saber condensar os sentimentos expressos por aqueles personagens, sempre resgatando o que funcionara no curta, e não experimentando as possibilidades que seu longa lhe oferece.
Para além de um dos poucos
exemplares de cinema independente a ganhar visibilidade no mercado comercial
nacional, a importância de um filme como Hoje Eu Não Quero Voltar Sozinho,
independente do resultado esperado, é evidenciada quando o mesmo se projeta
dessa forma. Servindo de ilustração panfletária em movimento do que
possivelmente possa se suceder (positivamente) no cinema nacional dentro da temática,
o filme de Daniel Ribeiro talvez fosse mais assertivo caso não se prendesse
tanto à idealização concretizada no curta o qual se baseia, já que ambos se
configuram em formas e tempos concomitantemente distintos.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (★★1/2)
Brasil, 2014, 95 min.
De Daniel Ribeiro
Com Ghilherme Lobo, Fabio Audi, Tess Amorim