terça-feira, 22 de abril de 2014

[Crítica] Iggy Azalea - The New Classic


Quando surgiu nos holofotes da blogosfera independente, Iggy Azalea era apenas a versão higienizada do Eminem, querendo a todo custo soar transgressora, por ser uma loira branquela com porte de modelo fazendo música controversa. Nada contra, até acho ‘Pu$$y’ um divertido exercício de auto-paródia, mas dentre as parcerias com rappers como Pusha T e o atual coqueluche do hip hop -o ótimo- YG, e produtores conceituais como Diplo, Azalea mostrava que era bem mais um produto pronto pra ser comercializado do que uma rapper a ser levada a sério. Apesar disso, sempre tive a impressão de que ela tinha pura consciência da impressão que causava ao abrir sua boca pra rimar algo do tipo “wetter than Amazon, taste this kitty, silly Billy poppin’ pilly’s”. Mas se no começo Iggy, ainda que pouco substancial, tinha certo teor cômico na compilação das rimas exploradas por trap beats e bouncy refrões, em ‘Work’, carro chefe do The New Classic, numa versão melhorada da idealização capitalista vazia de Work Bitch da Britney Spears, a loira ostenta tudo que conquistou à base de muito trabalho, ao mesmo tempo em que diz estar tentando contar sobre o que ela passou pra chegar até ali, apesar de tudo acabar soando como pano de fundo pro beat reciclado do hit ‘Harlem Shake’ no refrão.


The New Classic é concebido em forma de disco épico, não somente pelo título sugestivo, ou por Iggy ser a branquela-modelo-fazendo-rap-ostentação, mas por existir uma necessidade supersaturada –e isso se resume ao pop atual em geral- de superação no lirismo de club beats, que fazem as produções oscilarem entre o conceitual e o extremamente (baratismo) comercial numa forma surpreendentemente consistente. O disco é de fácil acesso, e isso não é algo ruim, até porque estamos falando de um produto expressamente pop. E, ora, pois, se até a Young Money vez ou outra se junta pra se beneficiar do mercado pop com discos questionáveis, Iggy compilar um disco de dupla face não faz dela pior (nem melhor) que ninguém. Entretanto, o que torna a experiência do disco da Azalea duvidosamente interessante é a falta de posição da artista dentro do próprio trabalho. Por vezes agressivamente anárquica (na própria ‘Work’ existe uma subversão da ostentação do estilo de vida de Azalea), quase querendo falar algo que soe honesto e não apenas oscilação da banalização de superação que perpetua boas beat tracks do hip hop consciente (alô Angel Haze!), Iggy parece se perder na própria narrativa do disco, se entregando aos clichês sem necessidade, ou em outras vezes ostentando coisas que, let’s face it, ela nem tem moral pra ostentar. A posição de power bitch (inofensiva) em canções sobre ela se foder pro amor e querer mesmo diamantes mostra o quão fragilizado é o desenvolvimento da personagem de Iggy no disco. Existe um conflito muito grande entre a persona de Iggy e história das canções. Não que ela precise escancarar sua vida pessoal pra ser honesta sobre si mesma, mas é difícil acreditar na trama do The New Classic, pois mesmo que compreensível sua estrutura comercial, o disco pende mais pra apelação visual de sempre, do que pela ação introspectiva da moça nas própria rimas, ou pela ideia feminista dum disco de (pop) rap duma branquela boa de twerk se auto-reverenciando.


Island Records, Estados Unidos, 2014.


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