Quando surgiu nos holofotes da blogosfera independente, Iggy Azalea era apenas a versão higienizada do Eminem, querendo a todo custo soar transgressora, por ser uma loira branquela com porte de modelo fazendo música controversa. Nada contra, até acho ‘Pu$$y’ um divertido exercício de auto-paródia, mas dentre as parcerias com rappers como Pusha T e o atual coqueluche do hip hop -o ótimo- YG, e produtores conceituais como Diplo, Azalea mostrava que era bem mais um produto pronto pra ser comercializado do que uma rapper a ser levada a sério. Apesar disso, sempre tive a impressão de que ela tinha pura consciência da impressão que causava ao abrir sua boca pra rimar algo do tipo “wetter than Amazon, taste this kitty, silly Billy poppin’ pilly’s”. Mas se no começo Iggy, ainda que pouco substancial, tinha certo teor cômico na compilação das rimas exploradas por trap beats e bouncy refrões, em ‘Work’, carro chefe do The New Classic, numa versão melhorada da idealização capitalista vazia de Work Bitch da Britney Spears, a loira ostenta tudo que conquistou à base de muito trabalho, ao mesmo tempo em que diz estar tentando contar sobre o que ela passou pra chegar até ali, apesar de tudo acabar soando como pano de fundo pro beat reciclado do hit ‘Harlem Shake’ no refrão.
The New Classic é concebido em
forma de disco épico, não somente pelo título sugestivo, ou por Iggy ser a
branquela-modelo-fazendo-rap-ostentação, mas por existir uma necessidade
supersaturada –e isso se resume ao pop atual em geral- de superação no lirismo
de club beats, que fazem as produções
oscilarem entre o conceitual e o extremamente (baratismo) comercial numa forma surpreendentemente
consistente. O disco é de fácil acesso, e isso não é algo ruim, até porque
estamos falando de um produto expressamente pop. E, ora, pois, se até a Young
Money vez ou outra se junta pra se beneficiar do mercado pop com discos
questionáveis, Iggy compilar um disco de dupla face não faz dela pior (nem
melhor) que ninguém. Entretanto, o que torna a experiência do disco da Azalea duvidosamente
interessante é a falta de posição da artista dentro do próprio trabalho. Por vezes
agressivamente anárquica (na própria ‘Work’ existe uma subversão da ostentação
do estilo de vida de Azalea), quase querendo falar algo que soe honesto e não
apenas oscilação da banalização de superação que perpetua boas beat tracks do
hip hop consciente (alô Angel Haze!), Iggy parece se perder na própria narrativa
do disco, se entregando aos clichês sem necessidade, ou em outras vezes
ostentando coisas que, let’s face it, ela nem tem moral pra ostentar. A posição
de power bitch (inofensiva) em canções sobre ela se foder pro amor e querer mesmo diamantes
mostra o quão fragilizado é o desenvolvimento da personagem de Iggy no disco. Existe
um conflito muito grande entre a persona de Iggy e história das canções. Não
que ela precise escancarar sua vida pessoal pra ser honesta sobre si mesma, mas
é difícil acreditar na trama do The New Classic, pois mesmo que compreensível
sua estrutura comercial, o disco pende mais pra apelação visual de sempre, do que pela ação introspectiva da moça nas própria rimas, ou pela ideia feminista dum disco de (pop) rap duma branquela
boa de twerk se auto-reverenciando.