sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

As Aventuras de Paddington

Eu não sabia da existência de Paddington até pouco antes da sessão. Muito menos que o ursinho simpático e ingênuo era um grande sucesso na Europa, até porque, logo que vi o cartaz do filme pensei se tratar de uma versão inglesa do Ted. Felizmente, a surpresa foi outra (embora quem duble o protagonista aqui seja o Danilo Gentili). Como uma (re)atualização de Stuart Little, o filme de Paul King acaba servindo como um retrato do cenário Europeu atual, que anda sancionando leis e criando demandas de imigrantes em seus países -em especial a tão sonhada Londres de Paddington no filme. 
Nesse sentido, pensando o live action animado como um filme expressamente político, a adaptação do livro de Michael Bond se faz bastante crível. Porque, para além do sonho do urso órfão que almeja chegar na terra prometida [Londres], o roteiro sabe pintar bem as cores dos estigmas desses personagens que ao chegar em seu ponto de destino acabam sentindo o real choque cultural de países como o da rainha, onde predomina a ideia do imigrante que vem para tomar seu espaço privilegiado. Além disso, Paddington sobressai seu contexto infantil, mesmo que no filme fique bem claro qual é seu público alvo.

Entretanto, se mesmo um filme simpático e, de certa forma, relevante, ao explorar uma vertente estética peculiarmente funcional no cinema de Wes Anderson, que permeia o lúdico através dum olhar clínico para o emocional de suas personagens, Paddington trás inúmeros equívocos latentes e soluções risíveis sobre tal temática. Sem muito tato para o realce emocional dos personagens que configuram o tema, e profundidade na abordagem dos mesmos, o filme opta pelos previsíveis clichês de contos-de-fábulas, principalmente pela similaridade que esse tipo de história desperta no público.
Embora Paddington tenha em sua carcaça uma consistência natural sobre um determinado legado, a opção por caricaturas ocas para expressar seu valor artístico e cultural acabam o transformando num mero e efêmero retrato tal qual inúmeros de seus predecessores, sem que exista um real interesse de transformar a simbologia de sua história numa reflexão sobre afeto, superação, sonhos e preconceitos. 

Inglaterra, 2014, 95 min.
De Paul King
Com Sally Hawkins, Nicole Kidman, Ben Whishaw, Hugh Bonneville, Julie Walters


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