Acho sem sentido falar sobre revolução pop, já que o próprio gênero é revolucionário por excelência, mas se houve mesmo uma revolução pop na década passada, o disco que melhor reflete tal transição é o FutureSex/LoveSounds do Justin Timberlake. Primeiro porque Timberlake praticamente foi precursor da onda electropop que acometeu os anos sequentes do pop mainstream. Segundo, o disco é o pop em sua mais pura forma. Na época das especulações sobre o disco novo da Lady Gaga, o ArtPop, que acabou sendo uma decepção tremenda, muito se falava sobre uma nova revolução pop. Nessa artigo do Pedro Ascar para o Monkeybuzz, ainda que umas obviedades e equívocos tenham sido ditos, há uma linha de pensamento sobre o universo pop mainstream dos últimos anos bastante pertinente, que reflete muito no que as produções independentes de artistas como Grimes, Charli XCX, Sky Ferreira, Icona Pop ou AlunaGeorge –novo clã do pop pintado pela blogosfera alternativa e até mainstream- autointitulam ser pop, e que Katy B não faz muita questão de atestar em suas produções.
Conheci Katy B em meados de 2012,
quando ouvi juntos pela primeira vez o On A Mission e o Danger EP, discos que
são uma mistura do uk funky tradicional unido a batidas dubstep, muito
electropop e reflexos vocais do r&b britânico, e que de forma muito direta
quebraram as barreiras do que era quase um nicho pop europeu, ganhando as
pistas de todo o planeta e abrindo portas para artistas como Disclosure e
Jessie Ware, essa que vem mais na sombra do legado das soul divas pós-Amy
Winehouse. Numa entrevista recente pro Alex MacPherson, Katy B fala das raízes que
levam sua música ser tão universal e ao mesmo tempo muito própria. A economia
das produções e as particularidades que compõem cada verso das canções de Katy B
(“I need somebody to calm me down, a little lovin' like Valium”, ela canta em 5 A .M), quase crônicas de um
lifestyle, encontram nas batidas de dance-pop a imagem necessária para
construção de discos autênticos e sólidos como o On A Mission e seu novo
trabalho, Little Red. E jogue a primeira pedra quem nunca foi pra uma balada e
terminou a noite completamente bêbado, chorando ou refletindo sobre si mesmo né? O
Little Red é justamente um reflexo de sentimentos (universais) sobre o
desejo inconspícuo da vida noturna, que instiga e até machuca às vezes. E o
grande trunfo de Katy B aqui está na facilidade com a qual ela e seu time de
produtores (em
especial Geeneus , produtor e amigo de longa data) têm para
dissolverem batidas orgânicas. Da nostalgia de Crying For No Reason (quase um
hino instantâneo e uma versão contemporânea de Like a Prayer da Madonna), ou o
deep house de Aalyah, uma persona sobrenatural que rouba a atenção do namorado
de Katy ao se portar de maneira mística numa pista de dança, até o eletrônico
progressivo de Emotions, canção na qual ela proclama o desejo de sentir-se viva
ao lado da pessoa amada. São sensações, que mesmo partindo dum clichê pop,
são transformadas honestamente em matéria-prima das composições, e que me fazem refletir
sobre como esse novo disco de Katy, assim como o FutureSex/LoveSounds do
Timberlake, compartilham de elementos tão únicos do pop e seus efeitos imediatos, mesmo com propostas muito
distintas. Timberlake tinha a ambição das batidas de Timbaland, que
transformara seu disco num marco musical, mas Katy B se apóia tanto na sutileza das
composições de suas canções, quase ingenuamente até, que faz ser inevitável não
elevá-la como maior cronista de anedotas da música pop atual.